Crítica: Inexplicável e sua abordagem sobre a fé
O filme Inexplicável traz uma narrativa intensa sobre a fé e o poder da crença, mas será que ele realmente consegue explorar esse tema de forma satisfatória? Nesta crítica, vamos analisar como a obra se desenrola e se vale a pena conferir nos cinemas.
A dualidade da fé no cinema: caminhos possíveis
A dualidade da fé no cinema é um tema que frequentemente provoca debates acalorados entre críticos e espectadores. No caso de Inexplicável, o filme se posiciona claramente em um dos extremos dessa discussão. Por um lado, temos obras que abordam a fé como um elemento transformador, capaz de curar traumas e trazer esperança, como muitos filmes de M. Night Shyamalan. Por outro lado, existem produções que utilizam a fé como uma mera ferramenta de propaganda religiosa, sem aprofundar nas nuances emocionais que a crença pode oferecer.
No filme de Fabrício Bittar, a fé é apresentada como um recurso quase obrigatório para os personagens enfrentarem a adversidade. O casal protagonista, interpretado por Eriberto Leão e Letícia Spiller, encontra consolo em sua crença quando a situação se torna desesperadora. No entanto, essa abordagem acaba se revelando superficial, já que o filme não se permite explorar as complexidades da dúvida e da crença.
O problema surge quando a narrativa se transforma em uma repetição de discursos sobre a força da fé, sem dar espaço para que os personagens realmente enfrentem suas crises de crença. O personagem de Leão, por exemplo, poderia ter sido um veículo poderoso para explorar essa dualidade, mas o roteiro opta por um caminho mais simplista e maniqueísta.
Assim, Inexplicável acaba por não oferecer uma reflexão mais profunda sobre a fé, limitando-se a uma representação que se alinha mais à panfletagem religiosa do que a uma verdadeira exploração do tema. Essa falta de profundidade pode desanimar espectadores que buscam narrativas mais ricas e complexas sobre a condição humana e suas crenças.
Os personagens e suas lutas internas em Inexplicável
Os personagens de Inexplicável são centrais para a compreensão das lutas internas que permeiam a narrativa. O casal, formado por Eriberto Leão e Letícia Spiller, é colocado em uma situação limite: a gravidade do estado de saúde de seu filho. Essa situação extrema deveria servir como um catalisador para explorar as nuances da fé e da dúvida, mas, infelizmente, o filme falha em aprofundar essas questões.
O personagem de Leão, Marcus, é especialmente interessante. Sua revolta contra a situação e a busca por respostas refletem uma crise de fé que poderia ter sido explorada de forma mais rica. Ao invés disso, a sua transformação em um defensor da fé parece forçada e pouco convincente. O roteiro não permite que o público veja a evolução real de sua luta interna, o que acaba tornando suas decisões dramáticas menos impactantes.
Por outro lado, a personagem de Spiller, embora traga uma atuação sensível, acaba sendo reduzida a um papel mais reativo do que ativo. Sua luta interna parece girar em torno de apoiar o marido e manter a esperança, mas não há um desenvolvimento claro que a faça brilhar como uma personagem independente. Essa falta de profundidade nos personagens contribui para a sensação de que Inexplicável não está interessado em explorar a complexidade das emoções humanas diante da fé.
Além disso, o filme apresenta outros personagens que também carecem de desenvolvimento. Os médicos, por exemplo, são retratados de forma fria e robótica, funcionando apenas como um contraponto à fé dos pais, mas sem nuances que tornem suas próprias lutas internas relevantes. Essa representação simplista acaba por enfraquecer a narrativa, já que o conflito entre ciência e fé poderia ter sido um tema poderoso, mas é tratado de forma superficial.
Em suma, as lutas internas dos personagens em Inexplicável não conseguem atingir a profundidade necessária para que o espectador se conecte emocionalmente com suas histórias. As boas atuações de Leão e Spiller não são suficientes para compensar um roteiro que não se compromete a explorar as complexidades da fé e da dúvida que seus personagens enfrentam.